sábado, 28 de janeiro de 2012

REFLEXO


Sarcástico e irônico sorriso
Na minha face serena e tristonha
Meu pobre ser não tem força e nem sonha
Venta forte, faz frio e chove granizo

Inóspito e inabitável e liso
O solo escorregadio da medonha
Terra infértil da minha vergonha
Estranhamente, estranho tal riso

Meu silêncio é natural... é comum
Por toda parte, por lugar nenhum
Nascido por culpa da tal cegonha

Meu oponente cruel é meu espelho
Deixa-me tão ferido e de joelho
Eu sou o sintoma rude da peçonha
Fabio Rezende

DECOMPOSTO

O orgulho escorreu pela parede
A honra que eu não tive, vejo morta...
Deitada e fétida na minha porta
No meu pensar deturpado e com sede

Ai! Eu disse. Chamo-te e digo: - Vede!
Quão triste criatura, se entorta
O peito sente falta do que conforta
E me esfria no balançar da rede

Minha identificação frustrada
Sinto ser ninguém, sinto-me um nada
Onde estão os sonhos da infância?

Sem você por perto, minha amada
Sem o doce encanto da minha fada
Decomponho minha pobre substância.
Fabio Rezende

SOLIDÃO

Sinto no meu frágil peito, a tristura
Sinto uma lança que, lentamente
Aloja-se no pobre e descontente
Coração, esposo da amargura

Sinto o metal gelado, feito quente
Cortando as entranhas da ternura
Da alma cansada desta loucura
Sinto o corpo sem tato, já dormente

E, de sentir, hei de nunca mais sentir
Culpa da solidão que há sem ti
Não sabes que te amo loucamente

Na inútil discrição que eu tenho
Não mostro o sentimento, então, venho
Morrendo sozinho, assim doente.
Fabio Rezende


SILENCIO

O frio corpóreo e o aroma etéreo
A indescritível e triste sensação
Não há mais vida e nem há pulsação
Só a temperatura do necrotério

Sutilmente sinto a putrefação
Dos tecidos orgânicos... mistério
(Figura macabra do cemitério)
Na certeza mórbida da intuição

E as tumbas e os coveiros me olhando
E o ar ausente, fugia, me deixando
O clima comum: Nebuloso e funéreo

No silêncio da eternidade eu canto
Sob as pedras de barro e o amianto
Escuro e subterrâneo império.
Fabio Rezende

DO FIM

Vem ter comigo... Ó inevitável...
Companheira de todos os homens
A morbidez fatídica me consome
Vestida do pavor inconsolável

Em minha campa, repousando só
Com o carinho dos vermes no meu corpo
Não quero confessar que estou morto
E, pouco a pouco, virando pó

Hoje sou nada mais do que ossos
Sou destroços de todos os destroços
Partido em mil pedaços; desfeito

Sem forma alguma, cheirando mal
No funéreo leito natural
Não bate o coração nesse meu peito.
Fabio Rezende