sexta-feira, 2 de setembro de 2011

CAMÕES

Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

VERUM

Era alguém estirado em seu regaço
Vi, ali deitado, um morto um nada
Dormia triste, pela vida passada
Dormia sem mais tempo, nem espaço

 Alguém sonhava em mente de aço
Jamais sonharei com a revoada
Daquela inexistência ultrapassada
Da intuição langorosa, do laço

O nó das mentiras aqui contadas
Ouvidas e certamente creditadas
Com as verdades mais concretas

Um ser que sequer viveu, hoje é pó
E eu não sei se tenho raiva ou dó
Nem o que não sente um poeta
Fabio Rezende